23 de junho de 2020

Me expressar após cem dias


Manaus, terça-feira, 23 de Junho de 2020

                São 01h35m da manhã, em mais uma madrugada ou noite de sono perdida por conta de uma mente sem brilho. Nossa situação é de enfrentamento a pandemia global e como consequência estamos em isolamento social, mantendo quando/se possível, distanciamento e paralização de atividades sociais e econômicas. As esperanças e otimismo cessam aos poucos a medida que já “avançamos” por mais de cem dias em quarentena.

               Meu sentimento de isolamento é ainda maior. Por mais exageros que eu possa ter em minhas palavras ou sentimentos, desde minha ruptura com a sanidade mental em meados de 2019 quando tranquei meu período na faculdade e passei o restante do ano tentando cuidar de mim mesmo e das “responsabilidades domésticas”. Não foi fácil, e sequer fui bem-sucedido. Colecionei frustrações e cultivei ilusões e mentiras que iriam deteriorar ainda mais a mente – e foi isso que aconteceu.

               Em Julho, tive um dos poucos dias que senti a luz do Sol iluminar meu caminho. Um amigo me convidou para jogar Pokémon no centro da cidade, foi numa semana com muitos conflitos em casa. Tomei a coragem de ir, peguei minha bicicleta, e fui debaixo de um calor de clima equatorial em pleno horário de Sol a pino sem sequer saber uma rota, apenas guiado pelo meu “Instinto” e senso de direção e localização. Durante meu tour pela cidade, tive a oportunidade de fotografar e registrar momentos e lugares de Manaus que me provocam uma intensidade de sentimentos.

             Em Agosto depois de voltar de uma viagem que o balanço foi de aparentemente tranquila; porquê eu me dispus a tentar ser uma pessoa mais equilibrada; a primeira coisa na minha cabeça era de procurar “uma pessoa especial”. E mesmo exausto, na tarde daquele primeiro dia pós-viagem, tive a grande felicidade de receber um sorriso que preencheu um sorriso em meu rosto. Deu a hora de ir embora, eu fui... E como não sabia o que viria depois, a minha ansiedade atacou e minhas frustrações começaram a surgir. Me senti traído e traí a mim mesmo, mas por quê? Eu poderia explicar e expor aqui, mas não adiantaria nada. Apenas precisei dar um tempo a mim mesmo de chorar e sofrer sozinho. Passou; pelo menos dessa vez...

               Muitas semanas se passaram e meu confinamento domiciliar estava cada vez mais acentuado, até eu conseguir uma prática de aulas particulares de inglês após minha viagem. Foi algo que mexeu positivamente comigo. Recebi mensagens de apoio e incentivo para tentar um “novo projeto de vida”. Eis que recebi numa dessas mensagens algo despretensioso, porém que me envolveria, e me envolvi.

              Já passados alguns meses eu mergulhei fundo enquanto me afogava em sentimentos perigosos. Mesmo que você saiba nadar, mesmo que você conheça o local, a “ÁGUA” é fluida, possui comportamentos anômalos e distintos, nela e por ela ocorrem muitas mudanças e transformações. Para um coração que viveu em chamas e deixou uma alma queimada reduzida a cinzas, as transformações aconteceram, ficaram deterioradas – como escrevi anteriormente.

          Os pensamentos e medos já me cercavam quando Dezembro chegou. Todos os temores e traumas estavam ali, próximos e varrendo as minhas cinzas pelo ar; desde a leve brisa até a forte ventania. Eu já tinha perdido o controle, o meu ano tinha acabado e faltavam os dias até simbolicamente “virarmos pra 2020”. Eis que o mundo ruiu, e os pilares caíram. A Caixa de Pandora havia sido aberta, muitos poderes foram utilizados e expuseram a fraqueza de dois gigantes. Ambos saíram derrotados, nenhum saiu vitorioso. Não existiu feliz natal, não existiu feliz ano novo... Não havia espaço para um final feliz!

               Uma vez ouvi que “o tempo é dono da razão” e regendo graciosamente o Universo, ele vai avançando em frente. Baseado na ciência, o Tempo é uma Grande Entidade Física, ele “segue em frente” e não podemos voltar atrás, talvez jamais poderemos. O tempo apenas vai passando e seguindo.

               Apesar de ocorrer isolada em Dezembro de 2019, o status de calamidade sanitária chegou a diversas partes do mundo em Fevereiro de 2020. Muitos países sofreram e ainda sofrem com a pandemia. No Brasil as coisas só foram expostas a partir de Março, porém, já estamos praticamente em Julho – fechando o arco de um ano desde o começo do meu relato – e não temos perspectivas de que as coisas melhorem. A quarentena “acabou”, as pressões sociais aumentaram para as pessoas retomarem parte das atividades, debaixo de um risco enorme e muitas incertezas.

               Ora, agora já são 02h21m da manhã deste novo dia, ainda que o Sol não tenha nascido para iluminá-lo. Passei esses minutos escrevendo parte desse texto enquanto penso em alguém. Foi por essa pessoa que é minha inspiração. Eu estava com medo de sentir ódio, então busquei a expressão através de palavras que aliviaram minha respiração. Coloquei para fora um sentimento que não faz parte de mim, me sufocava, tirava o meu ar, já não sabia identificar os sintomas, até que percebi...

Não são os sintomas da doença, são sintomas de saudade.

              Alguns dias atrás tentei um contato e um negociar um “contrato”. Por mais que isso tenha sido resolvido, vejo e sinto um buraco, um espaço vazio. É como ter conseguido uma chave de liberdade da prisão em que estava e mesmo com a porta aberta, ainda não pudesse sair.
 
                O que me prende? Não tenho respostas, mais uma vez. Mas não vou desistir de compreender o Universo ao meu redor, como um bom cientista faria! Eu precisava me expressar...
Créditos do autor na figura

William N. S.
25 Anos